segunda-feira, 26 de março de 2012

Paladar Aventureiro


O que nos faz ficar, literalmente, com água na boca, ou simplesmente não suportar determinados alimentos? Um especialista em fisiologia, ou química, certamente poderia nos dar uma explicação científica complexa sobre o sentido do paladar.
Mas, mais do que o efeito químico de substâncias presentes nos alimentos sobre nossas papilas gustativas, existem outras causas mais etéreas, digamos assim, para o desenvolvimento do paladar em cada indivíduo.

Experiências pessoais que vêm da infância desempenham um papel fundamental na composição da nossa memória do paladar.

Quem começa, em alguma fase da sua vida, a se interessar pelo mundo da culinária, passa a ter uma sensibilidade muito maior ao sabor dos alimentos. É claro que há muitos ‘comedores profissionais’, que não sabem fritar um ovo, mas sabem apreciar o mundo da gastronomia.

Na mais tenra infância, quando o bebê começa a ter contato com alimentos de sabores e texturas diferentes, é que principia a formação do seu paladar. Ao oferecer a uma criança, desde cedo, pouca variedade de alimentos, sua curiosidade pela novidade pode ser prejudicada pelo resto da vida. Sem mencionar o fato de que uma dieta pobre irá afetar seu crescimento, e sua saúde futura.

É só passear por alguns minutos pela praça de alimentação de algum shopping center e é fácil constatar-se como as pessoas estão comendo mal. Tudo bem, nos finais de semana as pessoas gostam de se dar uma folga e comer ‘junk food’ sem culpa. Mas mesmo aqueles que se servem dos bufês, costumam montar um prato monocromático - aquele prato em tons de amarelo (arroz, batata, macarrão e carne).

Tem pessoas que são tão avessas a provar comidas diferentes, que beira a fobia. Acho que uma boa ‘terapia’ para essas pessoas seria aprender a cozinhar – fazendo um curso de culinária, comprando livros de receitas... Viajar também é uma boa forma de conhecer mundos de sabores diferentes.

Hoje em dia, não há desculpa para não variar o sabor na cozinha. A quantidade e a qualidade de temperos e ingredientes em geral são impressionantes. Visite as feiras livres e os mercados públicos de sua cidade e leve para casa ingredientes frescos e variados, sem gastar muito.

Voltando ao tema específico do paladar, é marcante o quanto o sabor e o aroma (este ligado diretamente ao sentido do paladar) pode nos trazer lembranças, principalmente da infância. Outro dia eu estava fazendo um pão e toda vez que sinto o aroma do fermento penso imediatamente na minha avó. Sua casa estava sempre perfumada com aroma delicioso dos pães, roscas e biscoitos saídos do forno à lenha. Ela preparava a massa caseira e deixava descansando em bandejas cobertas por panos, e nós, os netos, adorávamos ‘roubar’ e comer aqueles fios de macarrão cru!

O sentido do paladar também pode ser muito misterioso e intrigante...

Devem existir estudos sobre a transmissão dos genes relacionados ao paladar, de pai para filho. Embora eu não tenha lido nenhum, na prática é fácil de perceber como certos gostos parecem ser compartilhados dentro de uma mesma família. Já perceberam isso?

E não estou falando dos hábitos alimentares (certos ou errados), mas de certos sabores que são de aprovação ou rejeição unânime. Eu e minha mãe, por exemplo, temos uma preferência e ao mesmo uma reticência quanto a certos alimentos que ultrapassa a lógica e o bom senso. Em geral, nós todos aqui em casa e estamos sempre abertos às novas experiências culinárias. A lista de receitas e ingredientes que são banidos dos nossos cadernos de receitas pode ser contada nos dedos das mãos...

...Mas coloque um lindo pudim de pão na nossa frente e será nosso inimigo para sempre! Sem ofensa a quem adora pudim de pão... Muita gente odeia miúdos de galinha, ou língua de boi, e eu acho uma delícia! São os mistérios da vida... e do paladar.

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