sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Saúde e Urbanização


Nos últimos meses a população de Porto Alegre vem discutindo o plano de urbanização da cidade, devido aos polêmicos projetos de ocupação da orla do lago Guaíba.

A capital gaúcha tem sorte de ainda contar com uma grande área verde, com muitos parques e praças. Mas os problemas ambientais e urbanísticos não são poucos: a poluição do Guaíba, a pouco organizada construção de edifícios comerciais e residenciais.
Muitos profissionais (arquitetos, engenheiros e ambientalistas), desfavoráveis à liberação da construção de prédios comerciais à beira do lago, temem que se abra um perigoso precedente para futuros empreendimentos imobiliários do mesmo porte.
Ficou claro que o plano diretor da cidade tornou-se flexível demais, mas até que ponto se pode conter o desenvolvimento de uma cidade?


Não apenas Porto Alegre, mas todas as grandes cidades do país enfrentam sérios problemas com o crescimento desordenado.

Saneamento básico, transporte, saúde, habitação, são algumas das peças do quebra-cabeça que os gerenciadores das metrópoles têm de encaixar com a maior precisão possível para manter seus habitantes felizes e saudáveis.


*Em 2008 a proporção da população mundial vivendo nas áreas urbanas ultrapassou a marca dos 50%.

No país mais populoso do mundo, a China, mais da metade das pessoas estarão vivendo nas cidades, em menos de uma década. Essencialmente, daqui em diante, todo o crescimento populacional do mundo se dará nas cidades: projeta-se que a população urbana será de 4.9 bilhões até 2030, um aumento de 1.6 bilhões, enquanto que a população rural encolherá em 28 milhões.


Essa transição está ocorrendo de modo caótico, resultando numa paisagem urbana desordenada. Embora muitos possam encarar a urbanização como um sinônimo de melhoria da qualidade de vida, isso não é a realidade para muitos, especialmente os mais pobres, que são absorvidos pelos aglomerados de favelas. Na verdade, a urbanização se tornou um risco à saúde para as populações mais carentes e essa mudança demográfica ameaça se transformar num desastre humanitário.


A ameaça vem tanto na forma do aumento nas taxas de doenças endêmicas, e do maior potencial das epidemias e pandemias – o que estamos vivendo agora mesmo no Brasil, com a gripe A, a dengue, a meningite e a febre amarela.

Para proteger a saúde global, governos e agências internacionais devem fazer alterações consideráveis em planejamento e programas, baseando todas as mudanças em pesquisas epidemiológicas e operacionais sólidas.


A maioria das pessoas sai do campo e migra para a cidade em busca de emprego, embora existam outras motivações, como os desastres naturais e os conflitos armados. Como moradia, a maioria dos migrantes encontra solução apenas nas ocupações ilegais ou irregulares, sem o mínimo de infraestrutura pública.


Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (http://www.pnud.org.br/home/), 43% dos residentes em áreas urbanas de países subdesenvolvidos como o Brasil e a Índia, e 78% daqueles vivendo em países ainda mais pobres, como Haiti e Etiópia, vivem em favelas. Essas favelas, maiores responsáveis pelo crescimento urbano, carecem não apenas dos serviços básicos municipais, como de reconhecimento político. Moradores que têm sua presença tolerada, mas suas necessidades mais básicas são ignoradas pelos governantes.


O paradigma atual da saúde pública mudou, não estando mais restrito a lesões, poluição e doenças crônicas. O incremento da densidade populacional sem o suprimento de água potável apropriado tem sido responsável pelo aumento no risco das doenças transmissíveis. A mortalidade entre crianças com menos de cinco anos é maior em favelas urbanas do que nas ocupações rurais.


Ainda não se conhece o suficiente sobre as favelas para que se possam planejar intervenções focadas nos problemas de saúde de suas populações. No mundo, em geral, estatísticas de saúde não incluem os habitantes dessas áreas. E exatamente essas áreas urbanas mais pobres do mundo têm sido o criadouro de muitas doenças contagiosas, e potenciais pandemias.


Levar saúde até as populações urbanas carentes é um modo simples de se resolver muitos problemas, desde que seguidos planos efetivos. Serviços públicos fundamentais como vacinação e saneamento básico, acompanhados de treinamento de pessoal, como enfermeiros e parteiras, são altamente recomendados para atender essas comunidades.
*dados do artigo “Urbanization – an emerging humanitarian disaster” Patel, R.B. et all; NEJM, 20 agosto 2009.

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