sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Doenças associadas ao consumo de glúten



Este artigo foi publicado no jornal inglês The Guardian, há seis anos, mas acho que vale a pena a leitura, por suas observações relevantes, e porque muitos dos problemas abordados existem ainda hoje. Para quem preferir ler o texto original, vá ao link no final do texto.

Contra o Grão

Se você tem uma doença crônica – ou apenas se sente desanimado – a resposta poderia estar no seu estoque de pão. Jerome Burne revela por que muitos de nós deveríamos evitar o trigo.

- reportagem de J. Burne, jornal The Guardian, 17/09/2002


Se você sofre de osteoporose, doença de Crohn, artrite reumatoide ou depressão, é improvável que você culpe seu cereal do café da manhã. Afinal, intolerância ao trigo, ou doença celíaca (DC), é uma reação alérgica a uma proteína chamada glúten, que se estimava atingir apenas uma em cada mil pessoas.

Mas agora, dois pesquisadores americanos, James Braly e Ron Hoggan, publicaram um livro, Dangerous Grains (Grãos Perigosos), reivindicando que, o que parecia ser uma condição relativamente rara, pode estar mais difundida do que foi anteriormente estimado.

Braly e Hoggan sugerem que a intolerância ao glúten não afeta apenas as pessoas com DC, mas de 2-3% da população. Eles acham que a sensibilidade ao glúten (SG) é a raiz de uma proporção de casos de câncer, desordens autoimunes, condições neurológicas e psiquiátricas e doenças do fígado. A implicação é que a dieta ocidental fortemente baseada no trigo – pão, cereais, pastelaria, massas – está na verdade fazendo milhões de pessoas doentes.

Seu médico, se questionado sobre a DC, diria a você que ela envolve dano à parede do intestino, que ocasiona problemas na absorção de certos nutrientes, como cálcio, ferro e vitamina D.

Como consequência, você está mais predisposto a desenvolver condições como osteoporose e anemia, bem como uma variedade de problemas gastrointestinais. As crianças que tem a DC são muitas vezes descritas como “desnutridas”. A comprovação de que você tem DC vem quando o dano ao intestino aparece numa biópsia. O tratamento, que tem um grande índice de sucesso, é remover o glúten – encontrado no centeio e na cevada, bem como no trigo – da sua dieta.

Mas se Braly e Hoggan estão certos, o problema está muito mais difundido que os profissionais da medicina acreditam. Eles sugerem que a doença celíaca deveria ser renomeada “sensibilidade ao glúten " e, num apêndice do livro, argumentam que nada menos de 192 doenças, variando de doença de Addison e asma, à anormalidades no esperma, vasculite, artrite reumatoide e hipertireoidismo, estão "abundantemente representadas entre aqueles que têm a DC".

Dangerous Grains contém mais de uma dúzia de casos de pessoas que se recuperaram de uma ampla variedade de condições crônicas – dores nas costas, fadiga crônica, a doença autoimune lupus – simplesmente seguindo a dieta livre de glúten. Os dois autores argumentam sobre os grandes benefícios pessoais de tal mudança. "Depois de eliminar os grãos com glúten," escreve Hoggan, "eu descobri quão desconfortável e cronicamente doente eu tinha estado a maior parte da minha vida."

Se você é do tipo que já visitou uma clínica de nutrição, isto não é uma grande surpresa. Uma das sugestões mais comuns é remover temporariamente o trigo da dieta, para ver se faz alguma diferença. Na verdade, a conversa sobre alergia ao trigo tem sido tão espalhada que, em novembro passado, o Flour Advisory Board (obs.: algo como: junta conselheira da farinha) sentiu-se impelido a emitir uma declaração alertando sobre os perigos dessa ideia. O professor Tom Sanders, chefe da Nutrição e Dietética do King's College, London, foi citado dizendo: "A menos que você sofra da doença celíaca, uma condição muito rara, cortar o trigo da sua dieta é extremamente desaconselhável."

Sanders certamente representa o ponto de vista da maioria da classe médica, mas há boa evidência – tal como o trabalho do Dr. Harold Hin, um gastroenterologista de Banbury, Oxfordshire – sugerindo que deve haver necessidade de uma revisão. No espaço de um ano, Hin realizou testes sanguíneos nos primeiros 1.000 pacientes que vieram ao seu consultório reclamando de sintomas que podiam indicar a DC, tais como anemia, ou “estar sempre cansado”. Trinta provaram ser positivos e um diagnóstico da DC foi confirmado por uma biópsia.

Isto indicou que a DC estava aparecendo numa taxa de 3 para 100- 30 vezes mais do que o esperado. Significativamente, apenas cinco não tinham sintomas gastrointestinais. "Falta de diagnóstico e erro no diagnóstico da doença celíaca," Hin concluiu num artigo para o British Medical Journal, em 1999, "são comuns na clínica geral e frequentemente resultam em prolongada e desnecessária morbidez."

Mais recentemente, um amplo programa de pesquisa realizado pelo Centro de Pesquisa Celíaca da Universidade de Maryland, em Baltimore, confirmou as descobertas de Hin. Os cientistas de lá testaram 8.199 adultos e crianças. Metade dos amostrados tiveram vários dos sintomas associados com a DC, e destes, um em cada 40 das crianças testaram positivo para DC, e um em cada 30 dos adultos.

Mas não eram apenas aqueles que pareciam doentes que estavam tendo problemas com o trigo. Muito mais preocupante foi o que os pesquisadores de Maryland descobriram quando testaram a outra metade dos amostrados, que eram os voluntários saudáveis, selecionados aleatoriamente. Entre as crianças abaixo de 16 anos, um em cada 167 tinha DC, enquanto que a taxa entre os adultos era ainda mais alta – uma em in 111.

Se essas proporções são verdadeiras para a população americana em geral, significa que 1.8 milhões de adultos e 300.000 crianças têm DC não diagnosticada – pessoas que, mais cedo ou mais tarde, irão desenvolver sintomas vagos de mal estar, pelos quais lhes serão oferecidos vários remédios, que provavelmente não farão muita diferença. Finalmente, essas pessoas têm um risco mais alto de ter uma variedade de doenças crônicas.

Parece, portanto, haver boas evidências de que a DC é mal diagnosticada. Mas a proposta de Braly e Hoggan é mais radical que isto. Eles acreditam que a reação imune ao glúten que danifica o intestino na DC pode também causar problemas em quase todas as partes do corpo. A evidência para isto é um teste envolvendo uma proteína encontrada no glúten, chamada gliadina. Quando o corpo tem uma reação de imunidade, fabrica anticorpos. O teste para anticorpos anti-gliadina é conhecido como AGA, e as pessoas que testam positivo para o AGA muitas vezes não têm sinal de dano intestinal.

Na verdade, de acordo com o Dr. Alessio Fasano, que coordenou a pesquisa na Universidade de Maryland, "Globalmente, a DC 'fora do intestino' é 15 vezes mais frequente que a DC 'no intestino'." Braly estima que entre 10% e 15% das populações dos Estados Unidos e Canadá têm anticorpos anti-gliadina, colocando-os em risco de condições tão variadas como psoríase, esclerose múltipla, icterícia, síndrome do intestino irritável e eczema.

A ideia do glúten causar dano a outras partes do corpo que não o intestino é apoiada por outro clínico britânico, o Dr. Hadjivassiliou, um neurologista do Hospital Royal Hallamshire, em Sheffield. Ele realizou um teste AGA em pacientes que tinham "disfunção neurológica" sem causa óbvia e descobriu que mais da metade testou positivo. Mais que isso, apenas um terço do grupo positivo tinha qualquer evidência de dano intestinal da DC. Em outras palavras, enquanto os anticorpos do glúten podem danificar o intestino, podem também causar problemas em outros lugares. Nesse caso, foi o cerebelo, ou o sistema nervoso periférico.

Portanto, se uma reação ao glúten pode causar problemas no cérebro, pode também estar ligado a doenças autoimunes? Braly e Hoggan certamente acham que sim, e argumentam sobre o considerável sucesso clínico no tratamento de pacientes para condições como a doença de Addison, lupus, artrite reumatoide e colite ulcerativa, com uma dieta livre de glúten. De fato, quase todos os sistemas do corpo podem ser afetados (veja abaixo). Portanto, se você sofre de uma condição crônica que não parece responder ao tratamento, cortar o trigo por um tempo, parece valer uma tentativa.

Você é sensível ao glúten?

Se você sofre de qualquer um dos sintomas abaixo, talvez valha a pena investigar a possibilidade de você ser sensível ao glúten.

· Problemas respiratórios tais como sinusite, "alergias", "ouvido tampado".

· Sintomas relacionados à má absorção de nutrientes, como anemia e fadiga (falta de ferro ou ácido fólico), osteoporose, insônia (falta de cálcio).

· Reclamações digestivas: diarreia, constipação, estufamento e distensão, espasmos do cólon, doença de Crohn, diverticulite.

· Problemas autoimunes: artrite reumatoide, bursite, doença de Crohn.

· Doenças do sistema nervoso: doença neuromotora, certas formas de epilepsia.

· Problemas mentais: depressão, dificuldades comportamentais, ADD.

fonte: http://www.guardian.co.uk/lifeandstyle/2002/sep/17/healthandwellbeing.health

8 comentários:

  1. Muito boa essa matéria! Estou na fase de descobrir porque uma rinite alérgica crônica, desde os 12 anos de idade, parece não responder a qualquer tratamento médico desde então - e já estou com 37 anos.
    Recentemente, fui a uma nutricionista, que me sugeriu fazer um teste, de três meses sem ingerir glúten. Devo dizer que fiquei surpresa, pois, três dias depois já pude notar melhoras significativas. Creio que vale a pena tentar. Afinal, o que é retirar o glúten, em termos de sacrifício, se isso nos resguardará de doenças muito piores no futuro?

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  2. Muito boa a matéria. Sofro com várias doenças crônicas tais como rinite alérgica, sinusite e recentemente descobri que tenho lupus. Realizei alguns exames que mostraram que a taxa de anti-gliadina está bastante alta. Fui a uma nutricionista e ela me indicou uma dieta sem gluten e lactose que estou iniciando hoje (09/09/2011). Espero em breve não necessitar ingerir tantos medicamentos para combater o lupus.
    O esforço será grande, mas acredito que valha a pena!

    Ana Gizele

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  3. Cara Ana,

    boa sorte com o seu tratamento, e espero que a nova dieta ajude a melhorar bastante a sua saúde. Mudar os hábitos alimentares e começar uma dieta diferente é sempre um desafio, mas sempre vale a pena, pois quando o corpo reage positivamente, a vida só melhora, né?!

    espero que você possa aproveitar as dicas e receitas do blog, e estou a sua disposição para tentar ajudar em qualquer dúvida que tiver.
    (e o blog "sem glúten e sem lactose" também tem ótimas receitas para a sua dieta)

    obrigada pela visita,
    abraços,
    Sam.

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  4. Respostas
    1. Olá Cristina,

      apesar de não haver estudos conclusivos sobre o assunto, algumas pesquisas (http://bit.ly/24IU66U) e depoimentos de portadores de psoríase são muito positivos sobre os benefícios da dieta sem glúten. Converse com seu médico e, depois com um nutricionista, que irá indicar como seguir esta dieta de forma saudável.

      abraços,
      Sam.

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  5. OLá!!! Meu nome é Adriana e tenho Artrite Reumatóide. O tratamento com remédios(quimioterápicos e corticóides) me ajudou bastante, mas por outro lado me fazem muito mal, e hoje em dia parei pois não consigo nem olhar para os comprimidos. Tenho visto bastante matérias, estudos e até depoimentos de pessoas com o msm problema que tenho ou tb o lúpus que retiraram o glúten da dieta e tiveram muitos benefícios, pararam com os remédios e hj estão vivendo muito bem sem eles. Adorei essa matéria só me incentivou ainda mais a adotar uma vida sem glúten. Creio que será um sacrifício pois AMO massas(rs), mais creio que valerá muito à pena!!!

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  6. Olá!! Tb gostei bastante da matéria, só me incentivou mais ainda a começar uma dieta sem glúten. Tenho artrite reumatóide à 2 anos e faço tratamento com quimioterápico e corticóide . De uns tempos para cá tenho passado muito mal com eles a ponto de não conseguir mais continuar com o tratamento. Vejo muitos estudos, matérias e relatos de pessoas com AR e lúpus que adotaram essa dieta sem glúten e hj vivem muito bem sem esses remédios horrorosos. Creio que será uma luta, pois AMO massas(rs); mais acho que pode valer muito à pena!! Obrigada pela dica!!

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    Respostas
    1. Oi Adriana,

      realmente, um problema de saúde, do mais simples ao mais grave, pode nos ajudar a entender como uma alimentação mais saudável (e natural) é importante em nossas vidas!

      Evitar certos alimentos pode ser um sacrifício no começo, mas com o tempo é até um prazer descobrir como existem comidas gostosas e diferentes no mundo.

      Quanto às massas, que você citou, as sem glúten (quase) não perdem nada para as de trigo, e são até mais leves e de melhor digestão.

      um grande abraço,
      e muita saúde para você!
      Sam.

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