O
uso ou não da aveia na dieta sem glúten costuma gerar muitas dúvidas. Este
artigo tenta esclarecer as dúvidas sobre o tema.
As
pessoas celíacas logo aprendem que a proteína do glúten é encontrada no trigo, centeio
e cevada – e em vários alimentos processados, e não apenas os baseados nos
cereais acima citados, mas, por exemplo, certos queijos, embutidos, iogurtes,
etc. Mas, um alimento que ao menos está tendo uma segunda chance na dieta sem
glúten é a Avena sativa – a aveia
comum.
A
aveia não contém naturalmente a proteína do glúten, no entanto, usualmente é
colocada na lista, juntamente com o trigo, o centeio e a cevada, de grãos a
serem evitados na dieta estritamente sem glúten.
Por
que acontece isso? A questão é que a aveia, no campo, normalmente é cultivada
em sistema de rotatividade com grãos que contém glúten. É fácil acontecer a
contaminação cruzada durante o crescimento e a colheita, bem como no transporte
em caminhões ou trens.
Por
estes motivos, é aceito por especialistas que a aveia “comum” provavelmente
contém glúten e deve ser evitada pelos celíacos, cuja dieta os impede de
consumir qualquer produto que contenha glúten – por menores que sejam as
quantidades desta proteína.
Mas,
felizmente, a aveia “comum” não é mais a única disponível no mercado. Nos
últimos anos, tem sido possível adquirir aveia não contaminada e, nos EUA, os
consumidores podem encontrar aveia com certificado garantindo que o produto não
contém glúten. Ou seja, alguns produtores tem se esforçado para garantir que a
aveia e produtos derivados mantenham-se “puros” e não sejam expostos ao glúten.
Muitos
estudos científicos têm avaliado esta aveia pura e a doença celíaca.
Dois
estudos recentes – um focado na introdução da aveia na dieta de crianças
celíacas, e outro nos efeitos em longo prazo do consumo de aveia em adultos
portadores da doença celíaca – não encontraram efeitos adversos relacionados à
inclusão de quantidades moderadas de aveia pura, não contaminada, na dieta sem
glúten.
A
Academy of Nutrition and Dietetics
posicionou-se a respeito da aveia, confirmando que a maioria dos celíacos pode
comer até 50 g ao dia (cerca de meia xícara) de aveia pura (sem glúten) sem
problema algum.
Entretanto,
há um dilema crucial: uma pequena porcentagem de pessoas celíacas irá sofrer
uma reação à proteína encontrada na aveia pura, conhecida como avenina, igual à
que teriam com o glúten. Embora não se saiba ainda quantas pessoas celíacas
reagem à avenina, acredita-se que se trata de uma pequena minoria.
De
acordo com o Centro da Doença Celíaca da Universidade de Chicago, é possível
que menos de 1 por cento dos pacientes celíacos mostrem reação à uma quantidade
grande de aveia em suas dietas.
Infelizmente,
ainda não existe um exame clínico para determinar quem irá reagir à aveia, ou
não, e, sendo assim, ao decidir incorporar a aveia em uma dieta sem glúten, algumas
precauções devem ser tomadas.
Segundo
nutrólogos do Centro da Celíase do Instituto Médico Beth Israel Deaconess, em
Boston, antes que qualquer indivíduo adicione a aveia à sua dieta sem glúten,
deve discutir o problema com seu médico ou nutricionista. Além disso, é
importante consumir apenas o tipo certo de aveia, ou seja, pura, sem
contaminação por glúten, devidamente rotulada e certificada.
Os pacientes recentemente diagnosticados devem certificar-se de estar seguindo rigorosamente a dieta sem glúten, com todos os sintomas resolvidos e os exames de sangue mostrando níveis normais de anticorpos associados com a doença celíaca. Só então a adição da aveia poderá ocorrer gradualmente, com um grande consumo de água, e, ao mesmo tempo, informando o médico sobre o surgimento de qualquer sintoma. Depois de três a seis meses, é importante seguir com o acompanhamento do gastroenterologista. O aumento do aporte de fibras da aveia pode resultar em sintomas gastrointestinais temporários, como inchaço e gases – o que pode ser confundido com sintomas da celíase.
Este
é outro motivo pelo qual é importante incorporar a aveia na dieta aos poucos, e
de acordo com o aconselhamento de um nutricionista ou médico. Adicionar aveia
pura à dieta sem glúten pode ser uma boa vantagem nutricional. O grão é uma boa
fonte de fibras, proteínas e vitaminas do complexo B, e também pode ajudar a
reduzir os níveis de colesterol. Mas além dos benefícios nutricionais, ser
capaz de cozinhar com a aveia aumenta a diversidade da dieta, o que é sempre bem
vindo para aqueles que evitam o glúten.
No final das contas, cabe a cada pessoa
decidir o que é melhor para a sua dieta. A chance é boa de que não ocorram
problemas ao consumirem-se pequenas quantidades de aveia sem glúten, e
adicioná-la à dieta pode ser um incremento nutricional, além de expandir as
opções de refeições. Mas, se surgirem sintomas, ou os níveis de anticorpos se
elevarem, consulte seu médico. Tenha em mente que há algumas poucas pessoas que
não toleram nem ao menos a aveia pura.
Este
artigo foi publicado originalmente na edição impressa de inverno (ano: 2015) da
Allergic Living Magazine.
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